20 de mai. de 2021

Quinta da Josy: VIDAS FRUSTRADAS


Era uma noite escura e fria e lá fora indiferente a neblina que caia, estava um casal sentado no banco do parquinho. Liza começou a observá-los, sentou-se na sacada e ao contemplar aquele espetáculo noturno, não pelo casal, pela beleza da lua ou das estrelas, porque não havia nada reluzente no céu, mas pela escuridão quase espectral envolta naquela neblina branca e fria.


Olhou ao seu redor e se deu conta de que estava sozinha, de que na verdade sempre estivera sozinha, mas isso de modo algum lhe causou melancolia, estranheza ou solidão. Solidão é algo bom, pensava Liza, sozinha eu me encontro, me vejo, me sinto, me compreendo e me aceito. Não, ela não precisava de mais ninguém.

Liza acendeu um cigarro e envolta naquela atmosfera silenciosa, um silencio tão gritante, começou a pensar em suas amigas, nas vidas frustradas da maioria delas. Eram mulheres tão ricas, bem-sucedidas, tinham tudo que o dinheiro poderia comprar, mas tão secas, em uma busca constante de significado para a vida. Nenhum luxo era capaz de preencher o vazio existencial daquelas mulheres. Eu não desejaria uma vida dessas, pensou Liza.


Volvendo-se novamente para a neblina que caia, misturando-se àquela penumbra dura e branda, Liza lembrava das histórias, dos desabafos e por um momento sentiu pena daquelas mulheres que viviam de falsas aparências. Quantas confissões ela ouviu, com tanta ternura, daquelas almas tão carentes de si mesmo.

Lembrava de uma amiga muito jovem que lhe confessou certa vez, que não sentia mais amor e nem prazer em seu casamento, porém tinha que frequentar os espaços mais finos, com aquele belo sorriso exposto, ao lado de seu marido, mas ao chegar em casa desmoronava e chorava incessantemente trancada no banheiro. Por que se permitia viver de forma tão frustrante e amargurada? Liza não ousava pensar.


Lembrou consternada da sua amiga de infância que sofria constantes traições do marido, mas não poderia deixa-lo, não conseguiria viver sozinha, necessitava da companhia dele para se sentir segura, Liza nem lembra quantos drinks tomaram, enquanto sua amiga se derramava em sua presença. Nesse momento gotinhas de tristeza invadiram o ser de Liza.


E o que dizer daquela outra amiga que há exatamente dois anos quase não falava com seu companheiro? Dormiam em quartos separados, e muitas vezes era obrigada a ouvir os gemidos do parceiro com outras mulheres do outro lado da parede? Realidade cortante, mas confessava para Liza que seus pais haviam morrido, não tinha mais ninguém na vida e pelo menos ali nada lhe faltava materialmente. Liza sentia como se sua amiga já tivesse morta há anos.

Divagando nesses pensamentos torturantes, Liza levantou-se, acendeu mais um cigarro, pegou seu café quentinho, voltou para a sacada e refletiu sobre todas as histórias que ouviu e egoisticamente, talvez, se sentiu feliz por estar sozinha, por não precisar de absolutamente ninguém para se sentir completa, ela se bastava.


Liza terminou seu café, deu o último trago no cigarro, e se surpreendeu ao ver que o casal ainda estava lá no banquinho, agora abraçando-se e beijando-se, pareciam tão cúmplices que por um instante ela quase acreditou em finais felizes.

 

 

Por JOSY MATOS

2 comentários:

  1. o mínimo que se pode crer é num final feliz...

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  2. De onde é a escritora?
    Muito boa sua estória!porém muita resumida;
    Mais mesmo Ass parabéns!

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20 de mai. de 2021

Quinta da Josy: VIDAS FRUSTRADAS


Era uma noite escura e fria e lá fora indiferente a neblina que caia, estava um casal sentado no banco do parquinho. Liza começou a observá-los, sentou-se na sacada e ao contemplar aquele espetáculo noturno, não pelo casal, pela beleza da lua ou das estrelas, porque não havia nada reluzente no céu, mas pela escuridão quase espectral envolta naquela neblina branca e fria.


Olhou ao seu redor e se deu conta de que estava sozinha, de que na verdade sempre estivera sozinha, mas isso de modo algum lhe causou melancolia, estranheza ou solidão. Solidão é algo bom, pensava Liza, sozinha eu me encontro, me vejo, me sinto, me compreendo e me aceito. Não, ela não precisava de mais ninguém.

Liza acendeu um cigarro e envolta naquela atmosfera silenciosa, um silencio tão gritante, começou a pensar em suas amigas, nas vidas frustradas da maioria delas. Eram mulheres tão ricas, bem-sucedidas, tinham tudo que o dinheiro poderia comprar, mas tão secas, em uma busca constante de significado para a vida. Nenhum luxo era capaz de preencher o vazio existencial daquelas mulheres. Eu não desejaria uma vida dessas, pensou Liza.


Volvendo-se novamente para a neblina que caia, misturando-se àquela penumbra dura e branda, Liza lembrava das histórias, dos desabafos e por um momento sentiu pena daquelas mulheres que viviam de falsas aparências. Quantas confissões ela ouviu, com tanta ternura, daquelas almas tão carentes de si mesmo.

Lembrava de uma amiga muito jovem que lhe confessou certa vez, que não sentia mais amor e nem prazer em seu casamento, porém tinha que frequentar os espaços mais finos, com aquele belo sorriso exposto, ao lado de seu marido, mas ao chegar em casa desmoronava e chorava incessantemente trancada no banheiro. Por que se permitia viver de forma tão frustrante e amargurada? Liza não ousava pensar.


Lembrou consternada da sua amiga de infância que sofria constantes traições do marido, mas não poderia deixa-lo, não conseguiria viver sozinha, necessitava da companhia dele para se sentir segura, Liza nem lembra quantos drinks tomaram, enquanto sua amiga se derramava em sua presença. Nesse momento gotinhas de tristeza invadiram o ser de Liza.


E o que dizer daquela outra amiga que há exatamente dois anos quase não falava com seu companheiro? Dormiam em quartos separados, e muitas vezes era obrigada a ouvir os gemidos do parceiro com outras mulheres do outro lado da parede? Realidade cortante, mas confessava para Liza que seus pais haviam morrido, não tinha mais ninguém na vida e pelo menos ali nada lhe faltava materialmente. Liza sentia como se sua amiga já tivesse morta há anos.

Divagando nesses pensamentos torturantes, Liza levantou-se, acendeu mais um cigarro, pegou seu café quentinho, voltou para a sacada e refletiu sobre todas as histórias que ouviu e egoisticamente, talvez, se sentiu feliz por estar sozinha, por não precisar de absolutamente ninguém para se sentir completa, ela se bastava.


Liza terminou seu café, deu o último trago no cigarro, e se surpreendeu ao ver que o casal ainda estava lá no banquinho, agora abraçando-se e beijando-se, pareciam tão cúmplices que por um instante ela quase acreditou em finais felizes.

 

 

Por JOSY MATOS

2 comentários:

  1. o mínimo que se pode crer é num final feliz...

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  2. De onde é a escritora?
    Muito boa sua estória!porém muita resumida;
    Mais mesmo Ass parabéns!

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